MIS Blog/ Discoteca Básica
SPOK FREVO ORQUESTRA – PASSO DE ANJO (2004)
10 de março de 2017

A 36ª edição da série Discoteca Básica Brasileira do Século XXI MIS apresenta o trabalho renovador e grandioso da SpokFrevo Orquestra, uma das maravilhas surgidas nesse século, em uma época em que o frevo completa seu primeiro centenário.
“Passo de Anjo” foi lançado originalmente de forma independente em 2004 e teve reedição dois anos depois pela Biscoito Fino. O trabalho, que recebeu críticas positivas e prêmios, entrou na estante dos grandes discos da história do país e promoveu a orquestra para diversas turnês internacionais.
Inaldo Cavalcanti Albuquerque, o maestro Spok, começou a carreira no final dos anos 1980. Ainda na adolescência, ficou entusiasmado quando viu um carro de som trazendo a orquestra do maestro Nelson Ferreira com o improviso de saxofone de Felino. Dali surgiria a primeira vontade em construir a orquestra, fato que se concretizou após Spok trabalhar com Antonio Nóbrega, no final dos anos 1990.
Antes, Spok tocou todos diversos mestres do frevo, entre eles: Maestro Duda, Ademir Araújo, Zé Menezes, Paulo Lira, Maestro Nunes e Geraldo Santos.
Na SpokFrevo Orquestra, formada pelo maestro e dezessete músicos, todos improvisam e levam o frevo-de-rua e o frevo-canção para outros caminhos sem perder sua essência.
O trabalho abre com a faixa-título, frevo que se tornou o hino do grupo, escrito pelo maestro Spok em pareceria com João Lyra. O tema aceleradíssimo é executado por orquestras ao redor do mundo todo e se tornou símbolo da banda.
A segunda música é a belíssima e quebrada “Ponta de lança”, composição de um dos mestres do frevo, maestro Clóvis Pereira, que fez parte da Orquestra Sinfônica do Recife e do início do Movimento Armorial, de Ariano Suassuna, além de ter estudado com Guerra Peixe e lecionado por anos nas universidades de Pernambuco e Paraíba. Belos solos de sopros são alinhados para uma bonita entrada da guitarra de Renato Bandeira.
“Nino, o Pernambuquinho”, de maestro Duda, é outra grande referência a um músico importante na cena do frevo e, principalmente, na vida de Spok. Maestro Duda passou pela Orquestra Sinfônica do Recife, além de ter formado inúmeras bandas, com seus arranjos e composições quentíssimas.
“Ela me disse” é um frevo de Luciano Oliveira, que também toca guitarra espetacularmente na faixa. A canção é uma das boas surpresas de “Passo de anjo”. Assim como a belíssima introdução de “Frevo da luz”, do baterista Luizinho Duarte e do clarinetista Carlinhos Ferreira, integrantes do grupo cearense Marimbanda fazem participação especial nessa gravação.
O lindo solo do baixo de Hélio Silva recebe a marcha-frevo, “Mexe com tudo”, clássico de Levino Ferreira, um dos responsáveis por formatar a sonoridade do frevo a partir dos anos 1940 quando se mudou para o Recife e, assim como Nelson Ferreira, teve seus frevos gravados no Rio de Janeiro, pelas orquestras de Zaccarias e Severino Araújo, por exemplo.
“Frevo sanfonando” é uma das belezas do repertório de Sivuca, em parceria com sua esposa Glória Gadelha. A canção foi lançada em seu disco “Forró e Frevo”, que resume muito bem o espírito da música. Excelente achado de Spok para o repertório de “Passo de anjo” e que já sinalizaria o terceiro disco do grupo, lançado em 2013 com o mesmo nome.
E, como tudo aqui parece ter uma razão de ser, a próxima música é “Nas quebradas”, do nosso querido campeão Hermeto Paschoal. Sivuca, vindo da Paraíba, e Hermeto, vindo de Alagoas, se encontraram no início da carreira nas rádios do Recife. Tudo em casa no universo SpokFrevo Orquestra.
“Pontapé”, de João Lyra e Adelson Viana, mantém o clima deixado por “Frevo sanfonando” de Sivuca. Outro grande arranjo feito pelo maestro Spok, esse em parceria com o autor, Adelson Viana, que toca brilhantemente acordeon na faixa.
“Lágrima de folião”, de Levino Ferreira, recebe as participações especiais magníficas do violino de Antônio Nóbrega; violão de Edmilson Capelupi; pandeiro de Gabriel Almeida e clarineta de Zezinho Pitoco.
O disco se encerra com “Frevo aberto”, de Edson Rodrigues, que assina os arranjos, e mais um grande da história do frevo, músico responsável por ter fundado a Banda Municipal de Recife e nome marcante na história do maestro Spok.
E assim é “Passo de Anjo”, com o corpo virado para o futuro, mas sem esquecer das matrizes. É novo, mas também histórico. Faz parte de qualquer discoteca e, claro, tem lugar honrado na nossa série Discoteca Básica Brasileira do Século XXI MIS.
Ouça:
Ficha técnica:
Adelson Silva : Percussão
Alexandre Papa Légua : Trompete
Augusto Silva : Percussão
Cleber Silva : Trombone
Elisângelo de Oliveira : Percussão
Enok Chagas : Trompete
Fábio Costa : Trompete
Flávio Souza : Trombone
Gemerson Silva Neto : Trompete
Gilberto Pontes : Saxofone
Gilmar Black : Saxofone
Gustavo Anacleto : Saxofone
Hélio Silva : Baixo Elétrico
Jailson José (Lampadinha) : Trompete
Jorge Guerra : Trombone
José Francisco (Pêto) : Trompete
Marcílio Silva : Trombone
Nilsinho Amarante : Trombone
Renato Bandeira : Guitarra
Spok (Inaldo Cavalcante de Albuquerque) : Saxofone